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Número é superior ao número de Porto Alegre e expõe inércia da prefeitura, que não contrata profissionais e esconde dados que deveriam ser públicos

O quadro de contaminação de dengue vivido pela população de Sapucaia do Sul é um dos mais graves registrados em todo o Estado. O município atualmente registra um volume de ocorrências superior ao contabilizado na capital Porto Alegre, ocupando a 14º colocação no ranking de casos entre os 497 municípios do território gaúcho.

Segundo o painel de casos da Secretaria Estadual da Saúde (SES) até o dia 30 de abril foram confirmados 1.121 casos de dengue e outros 1716 passam por investigação em Sapucaia do Sul. Desses, 75 são autóctones, ou seja, contraídos no próprio município.

Esse cenário é ainda mais crítico ao considerar as proporções do município de acordo com a sua população e capacidade de atendimento em saúde. Com mais de 132 mil moradores, Sapucaia tem pouco mais de 10% de todos os habitantes da capital – que conta com mais de 1 milhão e 332 mil pessoas. Contudo, Porto Alegre está abaixo de Sapucaia no registro de casos, com 1067 casos confirmados até o registro mais recente. Desse total, 804 são autóctones.

Em Sapucaia, a falta de iniciativas para conter o avanço da doença tem sido um dos principais motivos de crítica da população de áreas mais afetadas. Em agosto do ano passado, o concurso aberto pelo Executivo para a contratação de novos agentes de endemias foi suspenso devido a um requisito inconstitucional. Porém, ao contrário de corrigir o edital e encaminhar um novo processo de contratação, o município apenas interrompeu o processo, sem dar novas informações sobre novos ajustes no chamamento de novos profissionais.

Atualmente, de acordo com informações obtidas pela reportagem, são apenas cinco funcionários para a fiscalização de cerca de 57 mil residências em Sapucaia do Sul. Seriam necessários, no mínimo, 60 agentes para contemplar toda a cidade.

Processo de contratação de agentes comunitários está parado

 

A leniência da prefeitura tem gerado indignação da população e em movimentos sociais em defesa dos trabalhadores. Para o atual presidente do PSOL, Matheus Vicente, a falta de coordenação das equipes de saúde e o número de profissionais insuficiente para abranger os atendimentos têm multiplicado a proporção de casos nos últimos meses.

Nós estamos vivendo uma epidemia de dengue e o prefeito bolsonarista não dá a mínima para isso. O processo seletivo dos agentes comunitários de saúde e endemias está parado. A dengue está aí, batendo à nossa porta e os agentes que temos são poucos para atender a população e alertar sobre os perigos da doença e como se prevenir. É urgente que a prefeitura comece a se preocupar com a saúde da população”, destaca Matheus.

A moradora de uma área de risco no bairro Pasqualini, Fátima Aparecida dos Santos, relata que a prefeitura não comparece à região para fornecer orientações aos moradores, mesmo com os diversos indícios de focos do mosquito – alguns deles situados em áreas particulares – o que aumenta o risco de contaminação para toda a comunidade.

Existe um córrego situado em uma propriedade particular que deveria ser limpo pela prefeitura, mas está com água parada por conta do entupimento do escoamento do fluxo de água. Isso se soma ao fato de algumas pessoas jogarem lixo. A água está suja e cheia de mosquitos, com um cheiro insuportável. A prefeitura sabe da necessidade de uma galeria ou encanamento por ali, mas não faz nada”, lamenta Fátima.

Com as fortes chuvas registradas nos últimos dias, a situação piorou ainda mais, gerando o alagamento de toda a região.

A água não consegue passar e volta para as nossas casas. É uma água suja que invade as casas e ninguém faz nada. Isso pode transmitir diversas doenças além da dengue. É um completo descaso o que está acontecendo aqui”, destaca.

A indignação da população também é vista por meio de manifestações nas redes sociais da prefeitura – que não repassa as informações atualizadas para a comunidade através de seus canais oficiais.

E os números da dengue no município, quando vão divulgar? Estamos vivendo uma epidemia em Sapucaia”, questionou o morador Jadir Kondra em uma postagem da prefeitura.

Outro morador também fez o mesmo questionamento: “E as medidas referentes à dengue na cidade, quais são”, perguntou Andreza Dalmann, sem obter qualquer resposta.

Prefeitura não respondeu aos questionamentos enviados por reportagem

Com o objetivo de esclarecer quais são as medidas adotadas pelo Executivo para amenizar os efeitos da dengue e orientar a comunidade sobre as formas mais adequadas de prevenção contra a disseminação da doença, a reportagem encaminhou um conjunto de questionamentos para a secretária municipal da Saúde, Flávia Motta.

Contudo, a titular da pasta não quis dar entrevista sobre o tema. Diante da negativa em prestar contas para a população, a reportagem encaminhou diversos questionamentos sobre eventuais medidas que estariam sendo colocadas em prática pelo Executivo. Dentre elas, estavam perguntas sobre o efetivo de agentes comunitários da dengue disponível e quantos agentes seriam necessários para dar cobrir toda a população – informações que são de caráter público.

Entretanto, não houve nenhuma resposta sobre a contratação de mais profissionais ou qualquer explicação sobre problemas no concurso que poderiam ter impedido o chamamento dos agentes. Outra pergunta não respondida foi sobre a atuação de agentes comunitários temporários no município e a possibilidade de lançamento de novos concursos.

Por meio de nota encaminhada mais de três semanas após a solicitação, a prefeitura apenas lançou explicações genéricas sobre o assunto, sem explicar se alguma ação emergencial está sendo efetuada no município para conter o avanço da contaminação.

Segundo a nota, “a Prefeitura de Sapucaia do Sul reforça seu compromisso em combater a proliferação do mosquito da dengue e manter a saúde da população como prioridade”. O comunicado ainda afirma que “equipes permanecem integralmente dedicadas à prevenção e ao combate da doença”, mas não informa quantos profissionais atuam nem as questões sobre nomeação de novos agentes.

Além disso, a prefeitura ainda afirma que “a falta de limpeza e manutenção de pátios e áreas particulares é um fator determinante para a ocorrência de aproximadamente 75% dos casos registrados de dengue”.

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Marcelo Passarella
Jornalista